quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desafios e oportunidades nas megacidades

Prêmio Nobel de 2008, o economista Paul Krugman prognosticou que o crescimento das megacidades será o futuro do modelo econômico de desenvolvimento e crescimento. São nas megacidades que se verificam as maiores transformações da vida contemporânea, gerando uma demanda inédita por serviços públicos, matérias-primas, produtos, moradia, transporte e emprego. Trata-se do grande desafio atual para os governos e as empresas, exigindo mudanças na gestão pública e nas formas de governança, demandando maior participação da sociedade e obrigando o mundo a rever os padrões de conforto típicos da vida urbana - do uso exacerbado do carro à redução da emissão de gases.
O desafio é a reinvenção das megacidades por modelos de desenvolvimento sustentável.
Todo o território da orla industrial de São Paulo, por exemplo, podem se regenerar urbanística e economicamente e gerar uma metrópole mais compacta e mais sustentável. Áreas centrais como da Barra Funda ao Brás, Mooca e Ipiranga, que são desativadas produtivamente e muito pouco habitadas, porém bem localizadas e com ótima rede infraestrutural, estão delineadas no atual Plano Diretor da cidade como Operações Urbanas. Esta é uma rara oportunidade da megacidade de se reinventar, de criar uma cidade compacta dentro da megacidade. Reciclar o território é mais inteligente do que substituí-lo.
MegacidadesUm de cada dois indivíduos mora em cidades. Cerca de 280 milhões deles estão nas megacidades, enclaves urbanos com mais de 10 milhões de habitantes. O número de megacidades se multiplicou nos últimos 50 anos e elas agora concentram 9% da população urbana do mundo. Sua importância na economia nacional e global é desproporcionalmente elevada.
Nas próximas duas décadas, as cidades de países em desenvolvimento concentrarão 80% da população urbana no planeta e é aqui que se encontram os maiores desafios. Lagos, na Nigéria, teve um aumento populacional de 3.000% de 1950 para cá, chegando a 10 milhões de pessoas. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro - 19,6 e 11,8 milhões de habitantes em suas regiões metropolitanas, respectivamente - enquadram-se como megacidades.
Mas, paralelamente à densidade única dos desafios, há uma rara concentração de oportunidades nas megacidades.
São PauloEm 1900, São Paulo tinha uma população de 240 mil pessoas, era uma vila caipira. Para chegar à posição de 5ª maior megacidade do mundo em 2008, passou por uma verdadeira: em 100 anos sua população cresceu 27.000%, e seu território, 40.000%.
A cidade deverá ganhar seis posições no ranking das cidades mais ricas do mundo e figurar como a 13ª em produção de riquezas, em 2020, conforme recente levantamento feito pela PricewaterhouseCoopers. O Produto Interno Bruto da cidade de São Paulo, estimado em US$ 263,2 bilhões, em 2005, deve superar o PIB de cidades como Miami, Hong Kong, Dallas e São Francisco, em 2020. A cidade é sede de 63% das empresas internacionais instaladas no país e de 38 das 100 maiores empresas nacionais, segundo a pesquisa "Urban Age São Paulo", conduzida por Luci Oliveira e Ben Page.
Mas quais os limites de São Paulo como megacidade da oportunidade? Para São Paulo evoluir no cenário mundial de competitividade, será preciso enfrentar enormes desafios. Reinventar-se pressupõe melhorar os índices gerais de qualidade de vida, reduzir os níveis de desigualdades sociais e econômicas, diminuir o volume de tráfego de veículos e a má qualidade dos combustíveis, aumentar a quantidade de áreas verdes e melhorar a qualidade do ar e melhorar os serviços de necessidades básicas, especialmente na área da saúde.
Densidade e sustentabilidade Cidades sustentáveis são, necessariamente, compactas e densas. Maiores densidades urbanas representam menor consumo de energia per capita: em contraponto ao modelo "Beleza Americana" de subúrbios espraiados no território com baixíssima densidade, as cidades mais densas da Europa e Ásia são hoje modelos na importante competição internacional entre as "Global Green Cities", justamente pelas suas altas densidades.
São Paulo possui baixa densidade e isso é insustentável: em média, há 29 habitantes por quilômetro quadrado. Nova York possui 53 e Bogotá, 60. Assim, a megacidade paulistana aproveita muito pouco a rede infraestrutural existente na área central e ocupa, sem planejamento, suas periferias, além de gerar imensos problemas de mobilidade e acessibilidade. Os dados recentes mostram que apenas 37% da população utiliza transporte público, contra 57,2% ,em Bogotá.
Desafios e oportunidades A reinvenção urbana exige investimentos gigantescos - e representa uma enorme oportunidade de negócios para o setor privado. Não é necessário apenas construir novos bairros, inaugurar novos parques ou expandir os sistemas de metrô. A recauchutagem urbana inclui reformar instalações obsoletas - como os velhos encanamentos de Londres, repletos de rachaduras por onde vazam milhões de litros de água.
O capital territorial e o novo potencial estratégico das megacidades são os problemas abordados em recente e instigante trabalho da Siemens. O projeto resume as principais descobertas de um estudo global e exclusivo sobre as megacidades reunindo dados e avaliando as perspectivas de 500 stakeholders de 25 dessas megacidades. Dentro deste quadro complexo, o estudo apresenta um retrato fascinante e valioso de como os desafios são priorizados e quais as melhores soluções de infra-estrutura que permitirão melhorar a economia local, o meio ambiente e a qualidade de vida nas megacidades.
Seis grandes desafios emergem do estudo:
1. A governança das cidades tem de se adaptar ao desafio de proporcionar soluções holísticas nas vastas regiões metropolitanas.
2. Os administradores das cidades têm que descobrir o equilíbrio entre três preocupações que se sobrepõem: competitividade econômica, meio ambiente e qualidade de vida para os residentes urbanos.
3. O desemprego é o principal desafio econômico.
4. A poluição do ar e os engarrafamentos são as principais preocupações ambientais.
5. Os stakeholders veem os transportes como o principal problema de infraestrutura e a prioridade principal para investimentos.
6. O setor privado tem um papel a desempenhar no aumento da eficiência das megacidades.
ReinvençãoHá pelo menos duas questões que todas as megacidades do planeta enfrentam: mudanças climáticas e desigualdade social. Mais da metade da população está nas cidades e uma em cada três pessoas vive em favelas. Na maioria das situações, as favelas estão em áreas periféricas que não deveriam estar urbanizadas, são de proteção ambiental. Ou seja, o desafio urgente é a reinvenção da cidade com base em um modelo socioambientalmente mais sustentável.
Curitiba implementou uma invejável práxis de planejamento urbano eficiente onde se destaca o sistema de corredores de ônibus implantado ao longo dos corredores de adensamento residencial. Paris hoje lembra bicicletas e ciclovias. Londres remete aos pedágios urbanos que atenuaram o antes insuportável trânsito na cidade. Bogotá construiu 300 quilômetros lineares de ciclovias, reurbanizou suas favelas e criou uma imensa rede de parques urbanos.
Passados alguns meses de imersão em forte crise econômico-financeira mundial, um dos poucos consensos emergidos é o da necessidade dos fortes investimentos públicos e de um gerenciamento republicano maior. As megacidades surgem como natural foco de recepção destes recursos.
A oportunidade está aí: São Paulo pode usar os seus territórios desativados para criar uma cidade mais interessante. Mais humana. Mais democrática. Mais viva. Mais sustentável.

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/20052009/48/saude-desafios-oportunidades-nas-megacidades.html

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